terça-feira, 11 de março de 2008

Breves sobre o Simbolismo


A influência francesa marcou o nosso simbolismo. Num dos primeiros livros em que se assume esta nova poesia – Oaristos em (1890) de Eugénio de Castro, além de explanar algumas das opções estilísticas referidas por Moréas, transcreve uma caracterização do estilo decadente — um estilo “reculant toujours les bornes de la langue” — feita por Théophile Gautier. Por outro lado, uma das mais importantes revistas de procedência simbolista, (Arte - 1899 1900), apresenta-se como uma publicação de alcance internacional, com colaboração original, sobretudo de Verlaine, Gustave Ihan e Stuart Merril, embora muitos outros se lhes venham a juntar. No entanto, o simbolismo português pode apresentar características que lhe são próprias a ponto de um poeta dessa geração, António Nobre, ter sido visto como um representante do nacionalismo literário. Paralelamente, importa realçar o facto de, entre nós, os simbolistas apontarem para uma forte renovação da linguagem poética, a qual quebra a tradição literária do seu tempo e se coloca mesmo, projectivamente, numa linha de evolução que de certo modo conduz ao modernismo. Assim, poemas como “A epifania dos licornes”, “Um cacto no pólo” e o texto introdutório das "Horas" de Eugénio de Castro abrem caminho a uma expressão surrealizante; grande parte da obra de Ângelo de Lima — pelo modo como desarticula a expressão verbal — antecipa propostas da poesia experimental; certos aspectos da poesia de Camilo Pessanha indiciam uma estética interseccionista tal como ela vai ser proposta por Fernando Pessoa. Passando por alto referências mais ou menos circunstanciais, o simbolismo foi objecto de uma reflexão teórica por parte de Eugénio de Castro. Acrescente-se — pela importância que tem para uma compreensão de problemas relacionados com o ritmo em poesia — a chamada “questão dos alexandrinos trímetros”, publicada em artigos sucessivos e com carácter polémico nas revistas desse tempo "Boémia Nova" e "Os Insubmissos".
É pois, pelas imagens, que o belo se manifesta e se apresenta como forma, distinguindo-se da verdade que é própria do conhecimento científico, filosófico, etc. Daí o desvio que se faz em arte relativamente ao “espírito da obra” ou à sua “intenção”, optando se por um estetismo ou pela consagrada noção de arte pela arte. No caso específico da poesia, importa recorrer a uma “orquestração verbal, atinente a produzir, pela sugestão do som, um estado sensacional” relacionado com um processo intelectual e com as decorrentes “modificações de sensibilidade”. Uma – outra - sugestiva abordagem desta nova poesia encontra-se n´ “Os Gatos” de Fialho de Almeida, embora o seu ponto de vista seja francamente recriminatório. Todavia, e precisamente pela negativa, aponta algumas características extremamente importantes: as palavras criam uma ”sinfonia labial”, a significação é obscura ou vaga, a escrita simbolista é “uma espécie de palimpsesto” (sendo, curiosamente, esta a palavra que G. Genette usa ao referir se a uma “littérature au second degré”, isto é, à possibilidade de um texto se ler num outro e assim sucessivamente). Isto colide com a excessiva valorização da subjectividade emocional ou imaginosa sustentada por um ultra-romantismo que tantos poetas ainda cultivavam; mas, por outro lado, é consentâneo com a interpretarão da “poesia complexa” defendida mais tarde por Fernando Pessoa, a qual aponta para a “intelectualização de uma emoção e a emocionalização de uma ideia”. Para além da importância literária do simbolismo que poderia ser sustentada pela análise textual de obras como as de Camilo Pessanha, António Nobre, Eugénio de Castro, Ângelo de Lima ou — sobretudo no teatro — António Patrício (aspecto esse que não foi aqui considerado e que se poderia alargar à prosa, destacando se, em 1896, “A História dum Palhaço de Raul Brandão”, justifica-se que se valorize a sua própria poética ou estética literária. Ela orientar-se-á, de certo modo, para uma modernidade que é aquela que Fernando Pessoa há-de reconhecer em alguns dos textos teóricos que escreveu, ao considerar o papel precursor do simbolismo.

Baudelaire é, sem sombra de dúvida, o precursor do movimento que os seus detractores apelidaram de “decadent”, mas que marca com veemência, as últimas décadas do século XIX, influenciando, e provavelmente criando, a poesia internacional, que acabámos por denominar de Simbolismo. Da sua visão literária, surgiram em França os poetas "malditos", e da sua obra derivaram os procedimentos anti-convencionais de Rimbaud e Lautréamont, a musicalidade de Verlaine, a intelectualidade de Mallarmé, e a ironia coloquial de Corbière e Laforgue.